Paula Valerio
A pauta ESG (Environmental and Social Governance, ou Governança Ambiental e Social), há muito, deixou de ser tema de debate e passou a integrar os planos de ação das empresas. Isso porque o impacto social, de governança e, principalmente, ambiental gerados por indústrias ficaram mais evidentes para o mercado global. Além disso, tais medidas já têm resultado em mudanças reais na cultura organizacional de negócios.
Prova disso, é o passo importante que a Comissão Europeia deu com a criação e implantação legislativa do Digital Product Passport (DPP, ou, em português, Passaporte Digital de Produtos). A utilização dessa nova lei é fundamental para o crescimento da pauta de sustentabilidade a nível mundial.
Apesar de ser uma regra vigente, por enquanto, apenas na Europa, acredito que ela merece nossa atenção. Por isso, vou explicar o que é o DPP, qual a sua relação com as embalagens inteligentes e porque este conceito deve chegar aqui em breve.
Trata-se de um mecanismo tecnológico para coletar e compartilhar dados de produtos durante todo o seu ciclo de vida. Essas informações são úteis para a sustentabilidade, preservação do meio ambiente e reciclagem dos produtos. Para que sejam utilizados, esses dados – tais como matéria-prima, processo de fabricação e até o descarte do item no final da vida útil – são registrados em suas respectivas cadeias de suprimentos.
O Comitê Europeu criou o Plano de Ação para Economia Circular (CEAO), que entrou em vigor em março de 2020. Por sua vez, este plano está diretamente relacionado à adoção do DPP e sua proposta de uso a nível governamental. Trata-se de uma iniciativa, dentre outras tantas, que contempla um conjunto de propostas ambientais do Pacto Ecológico Europeu. Tais medidas têm a finalidade de buscar o desenvolvimento sustentável para as gerações futuras, ao passo que combate as mudanças climáticas.
Dessa maneira, a ideia é propor novas regras que tornem quase todos os bens físicos que circulam na União Europeia em itens mais ecológicos, circulares e que sejam energeticamente eficientes, ao longo de todo o seu ciclo de vida.
A adesão inicial foi na Europa, que começou a transição em 2019. A previsão é que, até 2024, as primeiras implementações aconteçam. Trata-se de uma série de normativas que visam promover a economia circular com transparência e sustentabilidade em toda a cadeia produtiva.
Para as empresas, o Digital Product Passaport oferece a possibilidade de reduzir custos de operação a longo prazo, a partir do rastreio e das informações coletadas em toda a cadeia de supply chain. Ao mesmo tempo, a iniciativa tem impacto na redução da pegada de carbono, que pode se transformar em créditos de carbono e ainda gerar um novo valor de mercado.
Por outro lado, os consumidores também se beneficiam de tal movimento. Uma vez que passarão a contar com produtos mais sustentáveis e empresas mais transparentes em relação ao que colocam nas gôndolas.
E o compartilhamento de tais dados tem se tornado primordial. Foi feita uma pesquisa pela Two Sides, organização sem fins lucrativos que aborda questões relativas ao mercado de produtos impressos em papel, e 52% dos consumidores entrevistados consideram que as informações contidas na embalagem influenciam a decisão de compra.
Registrar e proteger por meio de criptografia os dados do produto por meio de um passaporte digital de produto é uma solução com alta aceitação nas empresas, pois impacta e envolve várias partes interessadas. O DPP é capaz de oferecer benefícios e valores de longo alcance para consumidores, governo e até recicladores.
Novo modelo de negócio: com o foco na longevidade do produto, o DPP abre uma nova oportunidade de negócio que desbloqueia fluxos e impulsiona o crescimento das empresas. Além disso, o DPP pode ser como um canal adicional de marketing, vendas e operações de negócios. Afinal, as informações e dados coletados podem ser utilizados para novas ações empresariais, criação de novos serviços e uma experiência do consumidor enriquecida.
Aumento da confiança do consumidor: ao registrar todos os eventos do ciclo de vida do produto, as empresas podem mostrar ao consumidor a composição do seu produto e, consequentemente, oferecer uma visão mais transparente da autenticidade. Isso aumenta a confiança do comprador em relação a marca e pode maximizar a retenção e a fidelidade.
Proteção do cliente: garante que matérias-primas e o processo de fabricação estejam dentro das regulamentações, como ISO. Isso faz com que as empresas protejam seus clientes contra produtos falsificados. Além disso, a marca mitiga riscos relacionados a questões negativas de leis e regulamentações de cada país, recalls de produtos e incidentes causados por defeitos de produtos.
Garantia da conformidade: em uma eventual aplicação de DPP, a empresa contaria com uma fonte de informações – que podem ser rastreadas e acessadas facilmente – tornando as empresas capazes de monitorar sua conformidade em tempo real.
Verificar a conformidade: ao utilizar uma estrutura de DPP, os formuladores de políticas públicas poderão localizar, analisar e garantir a conformidade dos negócios com as iniciativas de sustentabilidade. Impulsionar a sustentabilidade: Ao criar uma plataforma imutável para registrar dados de sustentabilidade e fazer cumprir as políticas estabelecidas, empresas e organizações serão forçadas a seguir diretrizes. Principalmente quando seu ‘desempenho ecológico’ for totalmente aberto e transparente.
Confiança do comprador: os passaportes digitais oferecem ao consumidor a possibilidade de compreender o ciclo de vida completo dos produtos.
Valor maximizado do produto: as informações disponibilizadas pelo DPP garantem ao consumidor que o item adquirido é legítimo – permitindo-lhes evitar produtos defeituosos ou falsificados.
Reconheça a pegada de carbono: Dependendo do tipo de produto, é possível coletar dados precisos sobre consumo de energia e impacto ambiental da empresa em questão.
As tecnologias de embalagens inteligentes são o melhor meio de viabilizar o Digital Product Passport no mercado. Afinal, por meio de soluções específicas, tais como leitura do código de barras ou QR Code impresso no produto é possível acessar um universo paralelo – e infinito – de informações.
Além disso, as embalagens inteligentes se tornaram um meio de preencher as lacunas presentes na cadeia produtiva e oferecer um processo mais eficiente, como um todo.
Como o Digital Product Passaport é uma regulamentação global – e sabemos que as questões ESG estão em constante fortalecimento – podemos dizer que, mais do que se adequar a uma normativa, é fundamental que o mercado brasileiro compreenda os benefícios que o amadurecimento do conceito de embalagens inteligentes pode trazer para todo o ecossistema.
Então, deixo aqui uma reflexão: você já pensou em integrar embalagens inteligentes no seu negócio? Se não, minha dica é que aproveite agora para compreender este conceito e, principalmente, implantar melhorias enquanto há tempo hábil.
Paula Valerio é executiva do Sincpress, o primeiro centro de excelência em embalagens inteligentes da América Latina