Edson Perin
Numa época em que os brasileiros andam radicalmente divididos por correntes ideológicas e até por times de futebol, uma boa notícia surge no setor algodoeiro: duas empresas brasileiras estão elevando o patamar de qualidade do algodão nacional no Brasil e no Exterior. A ID-Cotton, vencedora do prêmio IoP Journal Award 2020, com sua solução para rastreamento do algodão desde a lavoura por meio da tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID), e a AG Surveyors, que realiza inspeção e certificação do algodão e com base em Santos (SP), firmaram uma parceria de 10 anos que terá impacto internacional do mercado de algodão.
Em entrevista ao IoP Journal TV, Carlos Freitas e Giovanna Freitas, da AG Surveyors, junto com Flavio Tarasoff, da ID-Cotton, deram a dimensão do trabalho que iniciaram há poucas semanas. A ID-Cotton faz o apontamento dos fardos ainda no campo, por meio da gestão e rastreabilidade até a algodoeira, realizando o vínculo do código SAI (o sistema de identificação da associação dos produtores de algodão) e gerando o embarque destes fardos em pluma. Em seguida, a AG Surveyors recebe o lote embarcado via sistema e, quando o caminhão chega ao porto, executa a leitura fardo a fardo com RFID.
Assim, pode-se garantir que só embarcaram no container os fardos que realmente fazem parte daquela instrução, gerando o Packing List automaticamente para o despachante aduaneiro e enviando o arquivo para o porto de destino conferir a desova de carga.
Segundo Carlos Freitas, a implantação atendeu as expectativas. “Ganhamos velocidade no processo, acuracidade e confiança”. Com o sistema, todos os produtos são rastreados da plantação ao consumidor final, por meio do padrão Electronic Product Code (EPC), da GS1. “A implantação segue o padrão da GS1, porque nos garante que haverá facilidade para interoperabilidade dos dados e preservação do investimento da implantação”, explica Flavio Tarasoff.
De acordo com o executivo da ID-Cotton, estão sendo utilizados dispositivos móveis com leitores embarcados. “Como o ambiente de operação são os terminais de terceiros, armazéns de terceiros, e devido à própria dinâmica da operação, onde pode haver mudanças do local de estufagem dos containers, ficamos impossibilitados de usar leitores fixos”, explica. “Além disso um dispositivo móvel é de certa forma um computador portátil, dando a possibilidade de agregar um app para tratar os dados e agregar informações relevantes ao processo”. Uma das atividades, diz ele, envolve o middleware desenvolvido pela ID-Cotton, que trata o que é relevante para a leitura.

De acordo com Giovanna Freitas, da AG Surveyors, implantar RFID foi uma experiência positiva na empresa, porque eliminou erros de operações que antes eram feitas manualmente. Tarasoff, da ID-Cotton, completou ainda que, como toda novidade, a RFID gerou algumas resistências iniciais, que com o uso comprovou ser uma decisão acertada.
“Os processos eram realizados de forma manual, por meio de formulários ou em algumas etapas por planilhas e e-mails trocados entre a empresa e os clientes, com baixa integração entre as informações, gerando demora para consolidação de dados e emissão de relatórios”, atesta Tarasoff.
Carlos Freitas esclarece que a parceria com a ID-Cotton está provendo os dispositivos móveis e o software para coleta e a integração com o software de controle de inspeção. “O principal objetivo utilizar a solução da ID-Cotton, unindo a cadeia produtiva com a logística”, mencionou. As tags estão sendo agregadas ao SAI, durante o processo de beneficiamento do algodão, antes da expedição para o porto. “Com isso a mesma tag aplicada na algodoeira é utilizada para o emblocamento, embarque, logística portuária e segregação na indústria têxtil, onde o algodão em pluma deve ser transformado em fio”, explica Tarasoff.
Os principais desafios do projeto, segundo o executivo da ID-Cotton, foram a necessidade de mobilidade da coleta, que foi resolvido com o uso de dispositivos móveis; a definição de parâmetros de leitura e de tempo de exposição das tags, que têm chips da Impinj; e a mudança da cultura de operação, demonstrando para terminais e operadores os ganhos de precisão e de velocidade em comparação ao registro visual e manual.
“O próximo passo da iniciativa é a realizar a integração para acompanhar e apontar o desembarque nos portos de destino, ou seja, a desova do container”, prevê Tarasoff. Além disso, a RFID já está integrada ao sistema de gestão (ERP), retirando do processo etapas de digitação e gerando integração entre as operações nos terminais e as informações enviadas pelos clientes, com o banco de dados em cloud computing.
Assista à entrevista, na íntegra, no Canal do IoP Journal no Youtube.