Correios iniciam utilização de RFID em suas cargas

O projeto global de modernização postal foi iniciado no Brasil com o suporte da Universal Postal Union (UPU), agência das Nações Unidas (ONU), e com padronização da GS1

Edson Perin

O Brasil é o laboratório internacional para melhoria de processos e oferta de novos serviços postais em todo o mundo, com tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID). Sob a batuta da Universal Postal Union, agência especializada das Nações Unidas (ONU) que coordena as políticas postais entre os países membros, os Correios do Brasil estão implantando o uso de etiquetas inteligentes em correspondências e, principalmente, em caixas de produtos, uma demanda crescente do comércio eletrônico. Os sistemas estão em funcionamento e seguem a padronização global de RFID da GS1.

O projeto está sendo posto para rodar em etapas, numa ação conjunta com a UPU. “Trata-se do primeiro projeto mundial para rastreamento de cargas postais com o uso da tecnologia UHF RFID”, explica nota oficial dos Correios ao IoP Journal. “A complexidade da implantação envolve o rastreamento de cargas postais que apresentam diversidade de materiais, dimensões e orientação espacial, além de necessitarem ter os seus dados captados em pequenas janelas de tempo e em grandes quantidades”.

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Devido às condições iniciais, foi adotado como premissa manter os atuais processos operacionais de carga, descarga e movimentação de pacotes. “Também está sendo mantido, em paralelo, o processo de rastreamento com o uso de códigos de barras, visto que neste momento o projeto não visa a substituir todo o parque de equipamentos e infraestrutura implantada por este tipo de rastreamento”, completa a nota oficial dos Correios ao IoP Journal. Com o avanço do uso da tecnologia RFID, na opinião do executivo dos Correios, certamente serão identificadas as necessidades de aprimoramento de alguns processos operacionais. “O uso da tecnologia RFID no ambiente postal está no início e, certamente, as mudanças em processos serão observadas ao longo da curva de aprendizado”.

A seleção da tecnologia foi realizada em conjunto com a UPU, tendo como premissa o baixo custo das etiquetas RFID, de modo a impactar minimamente o valor dos serviços postais. “As encomendas transportadas pelos Correios possuem os mais variados conteúdos e em boa parte de baixo valor, o que não justificaria a adoção de etiquetas ativas”, esclarece nota oficial dos Correios ao IoP Journal. Por outro lado, houve a necessidade de adotar o padrão mais utilizado no mercado e que apresentasse melhores benefícios, como a relação entre o custo e o desempenho de leitura para o nosso tipo de carga. “Além disso, o uso dos padrões GS1 permite a rápida adoção da tecnologia, visto que existem inúmeros fornecedores de soluções e de insumos no mercado. Vale ressaltar que a padronização permite aos clientes a obtenção de ganhos em seus processos, fora do ecossistema postal”. Ou seja, qualquer empresa poderá utilizar as tags empregadas pelos Correios para rastrear suas cadeias de suprimentos, por exemplo.

Os leitores estão instalados nos portões de entrada e saída de carga das principais unidades operacionais dos Correios, em todo o País. Estas unidades incluem os centros de triagem, terminais de carga, centros de distribuição, centros internacionais, entre outros. Nos Correios, as encomendas ou pacotes são transportadas de forma unitizada, dentro de contentores de carga, os quais comportam centenas de pacotes, dependendo das dimensões e pesos individuais.

“Cada encomenda possui a sua própria etiqueta RFID e os unitizadores de carga também possuem uma etiqueta RFID permanente, no caso com o identificador GS1 GRAI-96”, diz a nota oficial dos Correios ao IoP Journal. “Em um caso típico, quando um unitizador é embarcado ou desembarcado do baú de um caminhão, o leitor instalado sobre a doca de carga realiza o inventário do conteúdo do unitizador e transmite as informações para o repositório central da empresa. As informações de passagem do pacote são refletidas no sistema de rastreamento de objetos que é consultado pelos clientes”.

Os leitores foram selecionados por meio de licitação internacional conduzida pela UPU. O kit de leitura RFID é composto por um leitor Impinj, antenas Keonn, mini PC embarcado, que são integrados pela Kyubi – Comercial Arqué. “O projeto contempla 2009 kits de leitores, em diversas configurações, dos quais aproximadamente metade já estão instalados em cerca de 50 unidades operacionais”, relata nota oficial dos Correios ao IoP Journal.

O documento dos Correios ao IoP Journal afirma ainda que o sistema foi concebido para que os próprios clientes pudessem adquirir e produzir os rótulos das suas encomendas, já com a tecnologia RFID incorporada, sem limitar o uso a determinada marca ou modelo de inlay e dando ampla liberdade de escolha. “Tendo em vista a inexistência no momento de padrões técnicos de desempenho de inlays para uso em processos logísticos ou postais, diversos ensaios de campo foram realizados, envolvendo a ampla gama de tipos de cargas que são processadas diariamente nos Correios, tendo sido identificado um inlay de referência de desempenho mínimo. Trata-se do inlay denominado Smartrac Dogbone Monza R6”.

Para orientar os clientes quanto aos inlays que podem propiciar índices de leitura adequados, a empresa publicou uma listagem de inlays chamada RPC (Recomendados pelos Correios), os quais apresentam desempenho igual ou superior ao inlay de referência.

Segundo a nota oficial dos Correios ao IoP Journal, houve diversos desafios no projeto, como a identificação dos locais de instalação de cada kit de leitor RFID, a preparação da infraestrutura, o projeto e desenvolvimento do banco de dados, aplicações e integração com os sistemas corporativos, a capacitação da equipe envolvida e a produção de materiais técnicos para uso interno e externo. “Além disso”, afirma a nota oficial dos Correios ao IoP Journal, “um importante desafio foi a complexidade do rastreamento de cargas postais que apresentam diversidade de materiais, dimensões e orientação espacial, bem como a necessidade de captar os dados em pequenas janelas de tempo e em grandes quantidades”.

Na nota oficial dos Correios ao IoP Journal, a empresa acredita que, neste primeiro momento, será possível melhorar a jornada do cliente no que se refere à localização da sua encomenda. Será possível disponibilizar a informação do momento exato que o seu pacote entrou ou saiu de determinada unidade operacional, bem como a adição de novos eventos no processo de acompanhamento do deslocamento do objeto, desde a sua origem até o destinatário final.

Todos os esforços da equipe dos Correios conduzem para a implantação dos leitores em cerca de 180 unidades operacionais e a consolidação de uso da tecnologia por parte de nossos clientes. “Entendemos que este processo deve tomar os próximos 18 meses”, calculam os Correios na nota oficial ao IoP Journal.

A empresa possui um sistema próprio para o processo de track & trace – localização e rastreamento de encomendas -, chamado de SRO (Sistema de Rastreamento de Objetos), o qual foi desenvolvido para uso da tecnologia de código de barras, mediante a leitura, manual ou em equipamentos automatizados de triagem, das etiquetas de rastreamento, que são afixadas nas encomendas, como as etiquetas de Sedex.

“O sistema de RFID foi montado com uma base de dados própria, tendo em vista as especificidades de frequência de leitura e dos identificadores empregados”, relata a nota oficial dos Correios ao IoP Journal. “As informações são enviadas ao SRO continuamente e disponibilizadas aos clientes por meio dos canais digitais. Além disso, um grande esforço foi realizado para a integração com os sistemas de postagem utilizados pela rede de agências e por nossos clientes”.

O banco de dados da solução fica centralizado em Brasília e algumas informações são enviadas para a cloud da UPU, na Suíça. A evolução para o novo middleware, que está sendo desenvolvido pela Redbite, está prevendo o uso de arquitetura em nuvem (AWS IoT ou Internet das Coisas) para processos de monitoramento de funcionamento (manutenção), parametrização e atualização de software embarcado nos leitores.

De um modo simplificado para compreender o projeto dos Correios, o processo tem início na etiquetagem do pacote ou encomenda. Cada pacote recebe, atualmente, uma etiqueta de rastreamento com código de barras gravado com um identificador padronizado pela UPU, chamado de S10, que tem formato de duas letras, nove números e termina com duas letras (exemplo: ML123456789BR). Este é o identificador principal do pacote, para fins contratuais e para que o cliente realize pesquisa no sistema de rastreamento dos Correios.

Esta informação é captada ao longo do fluxo postal, mediante a leitura manual ou automatizada do respectivo código de barras. O identificador S10 é tanto fornecido pelos Correios aos clientes com contrato, que produzem os seus rótulos personalizados, como também é gerado na etiqueta de Sedex, por exemplo, que é afixada nas encomendas de clientes avulsos atendidos pelos guichês, nas agências.

“Com a adoção do RFID, o identificador S10 será mantido em paralelo com o identificador gravado no inlay, que no caso dos pacotes e encomendas, é o identificador no padrão GS1 SSCC (Serial Shipping Container Code)”, explica a nota oficial dos Correios ao IoP Journal. “Desta forma, cada pacote contém dois identificadores os quais, via sistema, permitem identificar de modo distinto cada remessa circulando pelos Correios, independentemente de o rastreamento ter sido realizado por meio de código de barras ou por meio de RFID”.

Para o caso dos clientes atendidos em agências dos Correios, o atendente irá afixar a etiqueta RFID e, via sistema do guichê de atendimento, vincular aquele determinado pacote aos seus identificadores SSCC e S10. “Para clientes com contrato, que requisitam via rede os identificadores S10 para a preparação de seus despachos, estes poderão adquirir as suas próprias etiquetas RFID, customizadas, conforme as suas necessidades individuais, e produzir os rótulos RFID com a sua própria codificação SSCC. Ou seja, com seu próprio CompanyPrefix, permitindo a integração e uso em seus processos internos, além da interoperabilidade, quando o pacote passa por diversos prestadores de serviço”.

Outra opção é vincular o identificador SGTIN de produtos que já possuam as suas próprias etiquetas RFID para identificar o pacote, vinculando ao respectivo S10. Os ganhos com o projeto, tendo em vista seu recente lançamento, ainda estão sendo monitorados.

O middleware atualmente em uso foi desenvolvido pela Kyubi. Suas principais tarefas são realizar a filtragem de eventos de leitura, minimizando o envio de informações repetidas ao repositório central, gerenciar os dados captados e enviar informações de apoio à manutenção dos equipamentos. No momento está sendo desenvolvido um novo middleware, pela Redbite, prevendo o uso de arquitetura em nuvem (AWS IoT) para processos de monitoramento de funcionamento (manutenção), parametrização e atualização de software embarcado nos leitores.

Como os Correios não têm relação direta com o fornecedor de hardware RFID, toda a negociação neste nível foi conduzida pela UPU, órgão responsável pela especificação e contratação dos equipamentos. E o fornecedor da solução de hardware – leitores RFID – foi selecionado por meio de licitação internacional publicada pela UPU, cujo certame contou também com empresas brasileiras.

As aplicações, banco de dados e interfaces com os sistemas corporativos atualmente em uso foram desenvolvidas in-house. Os processos de adequação da infraestrutura de energia e de comunicação de dados de cada um dos locais de instalação também foram desenvolvidos com recursos próprios e contratações específicas.

“Implantar a tecnologia RFID em uma empresa do porte dos Correios, com ampla cobertura geográfica, diversidade e volume das cargas processadas, com variado padrões construtivos das edificações, além envolver as diferentes necessidades de milhares de clientes dos mais diversos segmentos, tornou o projeto singular e ambicioso”, atesta a nota oficial dos Correios ao IoP Journal. “Os desafios foram divididos em cinco pilares – Infraestrutura, Leitores, Sistemas, Etiquetas e Etiquetagem –, visando a uma melhor organização da implantação do projeto”.

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