Tecnologia combate desperdício de alimentos

Ocean Mist e Costco usam uma solução de Internet das Coisas, baseada em RFID, para automaticamente localizar mercadorias na cadeia de suprimentos

Por Claire Swedberg

Os varejistas normalmente perdem uma média de 15% de sua renda anualmente devido ao desperdício de alimentos. Até 40% dos alimentos cultivados nos Estados Unidos nunca são consumidos, de acordo com o Natural Resources Defense Council (Conselho de Defesa dos Recursos Naturais ou NRDC). Grande parte da perda de alimentos ocorre nas fazendas, na casa dos consumidores e, também, devido às condições em toda a cadeia de fornecimento. A cadeia de frio é interrompida quando as unidades de refrigeração em veículos falham, atrasos ocorrem nas docas de carregamento ou ocorre um acidente.

Se a indústria alimentícia conseguisse eliminar esse problema, este alimento desperdiçado poderia alimentar milhões de pessoas. De fato, o relatório do NRDC de 2017, Wasted: How America Is Losing Up to 40 Percent of Its Food from Farm to Fork to Landfill (ou Desperdício: como a América perde até 40% de seus alimentos, da fazenda ao garfo, até o aterro sanitário), constata que a população mundial em 2050 precisará de 1,5 a duas vezes a quantidade de alimentos que cultivamos hoje, muitos dos quais não comemos. Enquanto isso, o desperdício de alimentos é responsável por 2,6% das emissões de gases de efeito estufa apenas nos EUA.

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A Zest Fresh usa sensores de IoT para monitorar o manuseio e a qualidade de cada produto, começando no campo, permitindo a correspondência das necessidades de frescor com a atual situação da mercadoria

Há muitos esforços governamentais em andamento nos Estados Unidos para lidar com o desperdício de alimentos, de acordo com Andrea Collins, especialista em sistemas alimentares sustentáveis do NRDC. “Além disso, muitas empresas estão focadas em cortar seus resíduos. Muitas das soluções envolvem tecnologia, especialmente quando se trata de prever a demanda, gerenciar produtos, medir o que é desperdiçado e, em geral, maximizar a utilização de produtos integrais”.

Várias empresas de alimentos estão lidando com o problema do desperdício na cadeia de fornecimento com uma solução baseada em RFID conhecida como Zest Fresh, fornecida pela empresa californiana Zest Labs. Sensores sem fio e software baseado em nuvem ajudam os usuários a rastrear as condições de seus produtos sensíveis à temperatura enquanto se deslocam do campo para a loja, identificando, assim, quando as condições estão fora dos parâmetros aceitáveis. A solução também fornece análises preditivas para recomendar ações corretivas quando uma excursão de temperatura é detectada.

Ocean Mist está usando a tecnologia para automatizar o rastreamento de vegetais frescos de várias regiões produtoras na Califórnia, quando produto é colhido em campos e movido pelo packing house, com o objetivo de maximizar o frescor da mercadoria. A empresa está monitorando os horários em que os produtos são colhidos e resfriados, juntamente com os tempos de permanência em toda a cadeia de fornecimento. Esses dados fornecem à empresa visibilidade sobre condições e status de produção e eficiência operacional.

Costco Wholesale está usando a tecnologia para rastrear produtos de seus fornecedores da Califórnia até armazéns nas costas oeste e leste. A empresa tem como objetivo obter dados analíticos sobre a cadeia de suprimentos e, assim, identificar maneiras pelas quais pode garantir a atualização ideal do produto que chega às lojas.

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Andrea Collins

A Zest Labs, empresa de tecnologia agrícola em San Jose, Califórnia, foi fundada como Intelleflex e depois mudou seu nome para refletir sua marca de produto, Zest Fresh, em outubro de 2016. O sistema usa um protocolo RFID UHF passivo assistido por bateria (BAP) que possui um alcance de leitura mais longo que a RFID passiva e suporta a coleta contínua de dados do sensor.

A temperatura dos alimentos na cadeia de suprimentos afeta diretamente sua vida útil, de acordo com Peter Mehring, CEO da Zest Labs. “A indústria alimentícia tem uma percepção errônea de que tudo colhido no mesmo dia tem a mesma vida útil”, explica ele. Um vegetal ou fruta que está atrasado ou incompletamente processado terá um prazo de validade reduzido.

Outra percepção equivocada, diz Mehring, é que a parte que tem o produto em mãos é responsável por sua deterioração – quando, na verdade, o dano pode ter sido feito muito antes na cadeia de suprimentos. Por exemplo, acrescenta, uma pallet de morangos frescos tem uma vida útil típica de 12 dias. No entanto, essa mesma fruta pode perder três dias de validade por estar no campo a 25 graus por três horas. A inspeção visual não detectaria esse problema.

Tendo fornecido sensores de temperatura baseados em RFID para a indústria agrícola há vários anos, a Intelleflex começou a construir seu próprio software em 2012 para capturar e gerenciar dados de leitura de RFID, já que a empresa encontrou uma escassez de provedores de software para sua tecnologia e aplicação. “Decidimos que precisávamos construir nosso próprio software e oferecer uma solução de ponta a ponta”, diz Mehring. A empresa trabalhou com o Wal-Mart de 2013 a 2017, embora tenha entrado com uma ação judicial contra a gigante do varejo por violação de segredos comerciais. Em 2018, outros clientes da Zest Labs começaram a pilotar ou implantar a tecnologia, incluindo a Ocean Mist e a Costco.

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Peter Mehring

Com Zest Fresh, os usuários primeiro capturam dados baseados em sensores no campo. Quando um produto (alface, por exemplo) é colhido, ele é embalado em caixas e um sensor Zest Fresh – contendo uma etiqueta RFID UHF integrada, um sensor de temperatura e uma bateria – é colocado na caixa junto com o produto. Os usuários normalmente implantam um sensor em uma única caixa em cada palete para rastrear as condições de todas as mercadorias naquele palete.

O sensor TMT-8500 (Tag ZIPR) da empresa pode ser configurado para capturar leituras de temperatura nos intervalos preferidos do usuário e para dormir entre as medições. A bateria de célula tipo moeda do sensor normalmente tem uma vida útil de três anos, com cada tag capaz de armazenar até 3.000 pontos de dados. À medida que os produtos se movem de um local para outro, como do campo para uma área de resfriamento, o tag do sensor é interrogado por um leitor de RFID portátil ou por um portal ou gateway fixo. A tag também pode ser interrogada por um leitor montado em uma empilhadeira.

A tag responde transmitindo seu próprio número de ID exclusivo, bem como todas as medições de temperatura realizadas desde a última leitura. Esses dados são então armazenados no software baseado em nuvem da Zest Fresh, que os usuários podem acessar a partir de um dispositivo móvel ou desktop baseado em Android ou iOS. Os dados coletados podem não apenas alertar os usuários sobre um problema, mas também fornecer dados históricos para fins analíticos, identificando tendências, como esperas prolongadas que ocorrem em locais específicos ou o aquecimento de mercadorias em determinados momentos

O sistema permite que os membros da cadeia de suprimentos capturem dados sem parar para buscar um registrador de dados ou registrar informações de temperatura manualmente. “Damos a eles a visibilidade que captura os dados automaticamente”, diz Mehring. Os usuários podem identificar quando as condições estão fora dos parâmetros aceitáveis e, em seguida, resolver esse problema tomando medidas corretivas, como mover um produto à frente de outro inventário para pré-resfriamento, para que ele alcance uma loja com frescor suficiente.

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Até agora, Mehring relata que aqueles que usam a tecnologia têm expressado surpresa ao descobrir que suas operações não são tão consistentes quanto pensavam que eram. Ao visualizar dados sobre condições atuais e informações históricas, acrescenta, as empresas podem modificar suas operações para se tornarem mais eficientes e, em última análise, melhorar o prazo de validade das mercadorias que vendem.

Maior eficiência na cadeia de suprimentos também pode reduzir o desperdício de consumo de energia e alimentar mais pessoas, observa Mehring. Além disso, os dados de tendências fornecidos pelo software permitem que as empresas identifiquem gargalos ou ineficiências e também ajudam a criar métricas para cálculos de vida de prateleira mais precisos. Esses dados podem ser usados para identificar a origem de um problema, bem como para provar onde os problemas não ocorreram para os membros da cadeia de suprimentos (o que significa que uma parte não foi responsável pelo estrago inicial). Até o momento, diz Mehring, o sistema provou reduzir o desperdício de varejo em cerca de 50% ou mais.

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