Uma luz no fim do túnel contra a contaminação de embalagens por bactérias e vírus

CEO da BioLambda explica como a startup desenvolve irradiadores UVC para descontaminação de objetos e ambientes, assunto em alta com a Covid-19

Edson Perin

A startup BioLambda, especializada no uso terapêutico e germicida da luz, desenvolveu uma linha de equipamentos que emitem radiação ultravioleta C (UVC) com o intuito de promover a descontaminação de máscaras, objetos, superfícies e ambientes. Segundo Caetano Sabino, fundador e CEO da BioLambda, estes recursos podem contribuir para a redução dos riscos de contaminação por microrganismos, inclusive, pelo novo coronavírus, causador da Covid-19. A startup tem suporte do Programa Fapesp de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).

Um dos aparelhos, o UVmask, foi desenvolvido exclusivamente para descontaminação de máscaras de proteção N95 ou de tecido e possibilita a desinfecção de quatro máscaras em cinco minutos. A BioLambda também disponibiliza a versão manual do equipamento, denominado UVsurface, para a descontaminação de objetos como telefones, teclados, dinheiro, maçanetas, correspondências, compras de supermercado entre outros objetos.

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Segundo Caetano Sabino (foto), fundador e CEO da BioLambda, seus equipamentos podem contribuir para a redução dos riscos de contaminação por microrganismos, inclusive, pelo novo coronavírus, causador da Covid-19

Para desinfetar ambientes, a empresa criou o UVair, constituído por uma câmara de inox refletivo polido, com três lâmpadas dentro e um exaustor. Pelo sistema, o ar é sugado, passa por um filtro, entra na câmara com uma intensidade UV altíssima e sai pela lateral por baixo, já descontaminado, como descreve Sabino.

Para garantir a eficácia microbicida dos equipamentos, a companhia utiliza dois parâmetros principais: a potência óptica pela área que está sendo incidida, ou seja, a irradiância; e o tempo de exposição com essa irradiância, que é a dose de UV. Sabino explica que os equipamentos usam UVC de 253,7 nm (nanômetros), pico de emissão de UVC que promete garantir a maior eficácia microbicida, seja contra bactérias e parasitas, seja contra vírus, como o SARS-CoV-2.

O efeito microbicida ocorre porque as bases constituintes do DNA e do RNA absorvem luz na faixa UVC. Esse efeito produz uma reação de fotoadição com moléculas próximas, gerando fotoprodutos que distorcem a estrutura do DNA ou do RNA e inibem as funções desse material genético. Assim, as lâmpadas dos equipamentos da BioLambda têm espectro de emissão no máximo de absorção do material genético, o que faz com que a eficiência seja elevada.

A BioLambda, o Cepid Redoxoma e o Hospital de Ensino Padre Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP), desenvolveram o equipamento inteligente para aplicação de fototerapia no tratamento de infecções localizadas, inclusive para tratamento do pé diabético. A startup também produz equipamentos para irradiação tanto de células in vitro quanto de modelos animais e para estudos clínicos.

O IoP Journal conversou com Caetano Sabino, fundador da BioLambda, para entender que tipo de luz a startup pode oferecer para o fim do túnel desta pandemia:

IoP Journal Esta tecnologia da BioLambda é capaz de eliminar o coronavírus de embalagens e ambientes?

Caetano Sabino – A luz UVC é comprovadamente eficaz contra o novo coronavírus além de inúmeros outros patógenos, tais como bactérias, fungos e parasitas. Entretanto, para cada tipo de aplicação, o ideal é ter um equipamento específico e otimizado para o uso. Para ambientes fechados, temos a linha de equipamentos UVair que continuamente desinfectam o ar. Para embalagens, temos o equipamento UVsurface que é um sistema de pequena escala para desinfecção de superfícies variadas.

IoP Journal Quais são os equipamentos que emitem radiação ultravioleta C (UVC) em uso?

Caetano Sabino – Atualmente, temos três linhas de equipamentos que utilizam radiação UVC para desinfecção de ar, superfícies e máscaras de proteção respiratória. Para desinfecção de ar e superfícies temos as linhas de equipamentos UVair e UVsurface que mencionamos anteriormente. Para desinfecção de máscaras, desenvolvemos, patenteamos e validamos o equipamento UVmask, que pode eliminar mais de 99,999% dos patógenos de quatro máscaras, em cinco minutos. Este sistema tem um design único que permite que as máscaras sejam rotacionadas automaticamente em frente a uma lâmpada UVC de altíssima potência. Desta forma, garantimos que não haja regiões de sombra para a radiação UVC incidida sobre as máscaras. Ainda estamos desenvolvendo uma nova tecnologia para desinfecção de esteiras industriais de transportes de produtos em parceria com a BRF S.A., que atualmente é a maior exportadora de produtos de frango no mundo.

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Logo e equipamentos da BioLambda

IoP Journal Qual é o custo para viabilizar uma solução dessas em um supermercado de 800 metros quadrados, por exemplo?

Caetano Sabino – O equipamento UVair 500 é capaz de desinfectar mais de 500 mil litros de ar por hora. Cada unidade desses equipamentos é suficiente para atender uma área de até 150 metros quadrados, ou seja, seriam necessários 6 equipamentos para a loja inteira, totalizando um custo de cerca de R$ 100 mil.

IoP Journal – Quanto tempo a máquina leva para limpar um espaço ou um número X de produtos?

Caetano Sabino – Este cálculo vai depender diretamente das dimensões do espaço ou da superfície dos produtos. Para uma embalagem de uma peça de peito de frango, por exemplo, seriam necessários cerca de 10 segundos para desinfetá-la de ambos os lados com o UVsurface, da BioLambda.

IoP Journal – O consumo de energia é muito grande?

Caetano Sabino – É muito interessante que as lâmpadas UVC tem uma eficiência energética similar à de LEDs, que é muito alta (30% para converter eletricidade em luz). Portanto, os equipamentos têm um baixo consumo energético e são econômicos e sustentáveis.

IoP Journal – Como funciona o UVair?

Caetano Sabino – O UVair tem um exaustor interno que puxa o ar para dentro do equipamento através de um filtro. O interior do equipamento é fabricado em aço inox polido é equipado com uma pluralidade de lâmpadas UVC da maior densidade de potência disponíveis no mercado mundial. Desta forma, o ar no interior do equipamento é exposto a uma intensidade altíssima de radiação UVC, sendo desinfectado em apenas dois segundo para ser devolvido ao ambiente. Logo, o UVair fica recirculando o ar do ambiente continuamente para reduzir de forma drástica o risco de infecção pelo ar.

IoP Journal – Qual tempo de exposição é necessário para limpar objetos?

Caetano Sabino – Com o equipamento UVsurface, da BioLambda, é necessário expor as superfícies por cerca de dois segundos a uma distância de menos de um centímetro para garantir mais de 99% de eliminação do novo coronavírus. Portanto, este é um método extremamente eficiente, que não usa bens consumíveis e não deixa resíduos químicos.

IoP Journal – O equipamento foi testado e certificado por alguma instituição?

Caetano Sabino – O equipamento UVmask já foi validado pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), pela BRF S.A. e pela MSA do Brasil. Já peticionamos o cadastro do equipamento junto à Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], porém ainda aguardamos por uma resposta definitiva. O equipamento UVsurface foi validado pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo e pela faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic. Os equipamentos UVair também estão sendo testados pela São Leopoldo Mandic.

IoP Journal – Há riscos para a saúde? Quais?

Caetano Sabino – Por agir diretamente nas moléculas de DNA e RNA, a luz UVC é eficiente contra quaisquer microrganismos. Entretanto, isto também a torna tóxica para células de humanos e animais. Efeitos deletérios que vão desde irritação e queimaduras, cegueira e até câncer. Portanto, a exposição da luz UVC à pele e aos olhos deve ser sempre evitada.

IoP Journal – Quais procedimentos de segurança devem ser tomados?

Caetano Sabino – Nossos equipamentos para desinfecção de máscaras e de ar emitem a luz UVC apenas dentro de câmaras hermeticamente fechadas. Desta forma, esses equipamentos são completamente seguros às pessoas em sua redondeza. Junto com o equipamento UVsurface, fornecemos óculos e luvas de proteção para que os operadores possam utilizar esta fonte de luz UVC de alta potência com segurança.

IoP Journal – Em quais ambientes este sistema não pode ser utilizado?

Caetano Sabino – Desde que os sistemas de luz UVC sejam implantados com elementos de engenharia que prezam pela segurança dos usuários, não existem contraindicações para seu uso.

IoP Journal – Poderia ser utilizado dentro de aviões, por exemplo? Ou em outros ambientes fechados, com circulação de ar restrita?

Caetano Sabino – Equipamentos que usam luz UVC para desinfetar ar, como o UVair da BioLambda, foram desenvolvidos exatamente para esta funcionalidade. Como nosso sistema mantém toda luz UVC confinada dentro de uma câmara, ele pode ser utilizado em quaisquer ambientes fechados, tais como meios de transporte e salas, sem oferecer riscos às pessoas.

IoP Journal – Como tornar seguro o funcionamento, por exemplo, de uma academia de ginástica? Lembrando que tem o ar ambiente, mas também equipamentos em uso.

Caetano Sabino – O ideal é utilizar um conjunto de soluções. Para desinfetar, o ar são necessários sistemas de recirculação de ar com filtros e luz UVC. Para as superfícies como de equipamentos de ginástica, deve-se utilizar equipamentos como o UVsurface periodicamente e após cada pessoa entrar em contato direto. Desta forma eliminam-se as principais vias de infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Adicionalmente, todas pessoas das academias devem usar máscaras novas ou frequentemente desinfetadas.

IoP Journal – A patente está registrada?

Caetano Sabino – A patente do sistema UVmask já está depositada junto ao INPI. Os demais equipamentos ainda não tiveram suas patentes depositadas.

IoP Journal – A BioLambda tem interesse em abrir capital, como em um IPO? [IOP ou Initial Public Offering. Em português, Oferta Inicial de Ações, para abertura de capital na bolsa]

Caetano Sabino – Deste futuro ainda pouco se sabe. Porém, abrir o capital em um IPO é uma possibilidade real para a BioLambda. Também estamos negociando fusão parcial ou total com grandes empresas brasileiras e estrangeiras.

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