Edson Perin
Há tempos acredito que as soluções para pagamentos tendem a um uso cada vez menor de cartões físicos e cada vez maior de smartphones, o que está começando a ficar mais visível agora, até para os olhares menos atentos. Não é que eu tenha uma bola de cristal ou que seja uma espécie de pajé. O fato é que cubro tecnologia há anos e especialmente as que se relacionam à realização de negócios. Assim, tenho visto que, de fato, os cartões de pagamento de débito e crédito têm perdido a preferência dos compradores e vendedores, e estão rapidamente ficando para trás. Afinal, os smartphones são mais rápidos e cômodos para pagar e, também, receber.
Outro dia, em uma conversa com executivos de negócios, mencionei esta transformação nos meios de pagamento, e um deles interrompeu para concordar: “na China, por exemplo, os QR Codes já são usados para pagamentos via celular há alguns anos, sem nenhum cartão de débito ou de crédito”, disse o empresário do setor calçadista.

E é verdade! Segundo apurei, os pagamentos via QR Code na China foram estimulados devido à grande falsificação de papel moeda no país, o que estimulou comerciantes e o próprio governo a adotarem os QR Codes como meio de pagamento e forma de combate ao crime organizado.
Os QR Codes são uma das soluções possíveis com imagens codificadas que, por meio de códigos visíveis, permitem que o comprador pague por um produto somente focando a câmera fotográfica do smartphone ao desenho quadriculado impresso na embalagem de um produto ou numa tabela de preços e códigos para se escanear.
Uma alternativa já disponível é a Impressão Digital, porém, com a vantagem de usar códigos invisíveis. Assim, uma embalagem de produto – sem nenhum código especial aparente – pode se comunicar com uma câmera de smartphone de modo natural, como se fossem os olhos de uma pessoa, que consegue reconhecer produtos somente observando suas embalagens. O que acontece, neste caso, é que os códigos estão embutidos na imagem decorativa da embalagem, criando uma identificação personalizada e individual, sem modificar em nada o seu layout.
Esta solução permite inclusive levar informações sobre o produto que ajudam inclusive em sua logística. E mais do que isso: podem favorecer experiências diferenciadas para o consumidor, como exibir vídeos, manuais de uso, informações sobre a validade do produto, preparo de receitas, autenticidade de fabricação, garantia e até orientar os compradores sobre o descarte correto de embalagens e até do produto em si.

No caso dos chips codificados, a identificação por radiofrequência (RFID), especialmente as soluções de NFC (Near Field Communication), tem sido o principal recurso para pagamentos. Neste caso, há um custo adicionado: o do chip, ou seja, do semicondutor que fará as vezes de um computador minúsculo capaz de armazenar dados sobre as mercadorias.
Especialmente quando não há jeito de os sistemas focarem suas câmeras sobre uma embalagem – quando várias caixas estão dentro de outra caixa maior, por exemplo – o uso de etiquetas inteligentes se torna inevitável. Porém, como hoje (ainda) não há meio de se fazer uma leitura de RFID UHF [exceto a de NFC] via smartphone, a melhor maneira de garantir também um contato direto entre manufatura e consumidor tem de ser por meio de QR Codes ou Impressão Digital.
Sendo assim, como quase sempre, uma tecnologia normalmente não substitui outra – as tecnologias se somam –, o que interessa, no final, é o resultado para os negócios. Por isso, o sucesso de uma tecnologia vai depender, não apenas de sua eficiência, mas também de quanto as pessoas gostam de usá-la e dos benefícios que trás.
Mais do que tudo, a Experiência do Cliente tem de estar entre os principais aspectos a se analisar em uma embalagem. Identificação e rastreamento são importantes? Sim, porque impactam em custos e na qualidade dos produtos. Garantir a autenticidade de um produto é importante? Sim, claro, e isto também é uma questão de impacto direto no cliente. E a Experiência do Consumidor na compra, uso e descarte do produto é importante? Sim, é fundamental. E mais: pode agregar aspectos que tornam a embalagem uma mídia interativa!
Em suma, falar de embalagem inteligente ou Internet of Packaging (IoP), atualmente, não impacta apenas o modo de adquirir e pagar por produtos, mas toda a cadeia de suprimentos, toda a experiência do cliente, atinge a sustentabilidade de companhias e ainda favorece uma comunicação direta entre fabricante e consumidor.
Edson Perin é editor do IoP Journal Brasil e fundador da Netpress Editora.