Beatriz Beserra
Fashion films? E-commerce por “lives”? Jogos digitais? “Reels”? Com a pandemia do Covid-19, a digitalização de empresas do ramo da moda foi super-rápida, necessária e visível. A moda de luxo, em especial, conhecida por ações e comportamentos majoritariamente tradicionais e conservadores, tem mostrado que não pretende ficar para trás quando o assunto é NTFs – non fungible tokens.
NFTs são arquivos digitais registrados geralmente, em blockchain, que servem como um selo não replicável. Podem ser eles imagens, vídeos, gifs ou outros. O importante é que não são intercambiáveis entre si. Com eles, são geradas assinaturas digitais imutáveis, que funcionam como prova de autenticidade e de propriedade no âmbito digital.
No mundo dos sneakers, os NFTs foram inaugurados pela RTFKT Studios. Em parceria com o crypto artista Fewocious, os tênis que existiam somente em forma digital foram vendidos por meio de um leilão virtual e se esgotaram em apenas sete minutos, rendendo 3.1 milhões de dólares à marca.
A Nike criou versões digitais de seus calçados físicos e a Louis Vuitton usa a tecnologia para rastrear a procedência de seus produtos de luxo.
Para sua coleção de outono de 2021, a Gucci fez parceria com a casa de leilões de arte Christie’s em um vídeo da NFT chamado “Aria”, que foi vendido por US$ 25.000 em junho.
A Crypto Fashion Week se concretizou em um momento em que a pandemia garantiu a relevância da moda digital e as criptomoedas estão se tornando populares. O resultado foi uma programação online repleta de workshops, exposições e conversas no Clubhouse, Twitch, YouTube e no metaverso, reunindo uma comunidade de designers, artistas, tecnólogos e qualquer pessoa interessada em moda digital.
Em um artigo escrito pela Nylon, uma das co-fundadoras da Crypto Fashion Week, Lady Phoenix, disse: “A moda digital pode ultrapassar as vendas físicas mais cedo do que pensamos. Especialmente agora, durante o Covid-19, as pessoas não estão se vestindo para impressionar em nenhum lugar, exceto na internet.”
Por meio dos NFTs pode ser criado uma sensação de exclusividade, ao passo que itens e experiências se tornam desejáveis. No mundo da moda, isso dá ao item em questão o valor de objeto único, irreplicável e exclusivo, além de permeado por uma experiência inovadora e interessante. As marcas de luxo podem usar NFTs para dar a mais clientes acesso às suas marcas.
“Quais passarão a ser as expectativas de alguém que consome peças digitais quando ela quiser comprar uma peça real e tangível? Será que ter uma peça no game não aumenta o desejo de poder usar a marca também fora dele? Acredito que sim”, aposta o futurologista Kim Ludvig.
Somente na Decentraland, o volume de vendas de crypto fashion chegou a US$ 750.000 no primeiro semestre de 2021, ante US$ 267.000 no mesmo período do ano passado, de acordo com o NonFungible.com, um site que monitora o mercado de NFT.
Uma grande motivação por trás da implementação dos NFTs está o enorme potencial na garantia da autoria das criações de designers, estilistas e artesãos. Com estes tokens, cópias de roupas e de imagens de moda serão mais fáceis de serem desmascaradas, pois tudo estará registrado em rede.
Uma das plataformas na vanguarda desse uso é a Arianee, empresa francesa de certificação digital que utiliza os NFTs para garantir a autenticidade de artigos de luxo. Entre as empresas que adotaram esse protocolo estão algumas das gigantes do mercado de relógios, como a Breitling e a Vacheron Constantin.
Outros entusiastas dos NFTs os apontam como uma alternativa ecologicamente correta em relação à fast-fashion.
Alguns criticam e fazem alertas sobre o impacto ambiental da tecnologia, tendo em vista o consumo de energia muito superior às transações convencionais. Algumas marcas já caminham rumo à uma mudança para protocolos mais limpos e eficientes. A título de exemplo, o Burberry NFT não é executado no modelo de criptografia Proof of Work que consome muita energia, como o Ethereum, mas sim por meio de um protocolo de blockchain privado EOSIO usando um modelo de prova de autoridade que consome muito menos energia.
Se estas serão tendências e práticas cada vez mais frequentes em nossa sociedade, em pouco tempo saberemos.
Beatriz Beserra é assistente jurídica na Daniel Advogados