Havan reduz tempo de inventário das lojas, com RFID

A companhia cortou custos para controlar 200 mil peças em estoque: o processo de cinco noites com 15 colaboradores passou a ser feito em uma hora com uma só pessoa

Edson Perin

Já se foi o tempo em que o inventário de uma empresa tinha de ser feito tirando-se funcionários de suas atividades principais e mais lucrativas para colocá-los na monótona e cansativa tarefa de contar produtos manualmente, por exemplo, com leitores de códigos de barras. Além disso, por ser uma atividade repetitiva e desinteressante, muitas vezes os resultados das contagens manuais – inclusive aquelas que nem mesmo dispõem de códigos de barras – têm um altíssimo índice de erros.

Sabe-se cientificamente que, muitas vezes, um funcionário conta um produto duas vezes ou deixa de contá-lo no meio desta operação, por falha humana. Uma contagem tipicamente manual – mesmo que equipada de códigos de barras – pode conter erros próximos a 15% do estoque real, segundo um estudo realizado pelo RFID Lab da Auburn University, sob a batuta do Professor Doutor Bill Hardgrave.

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Alexsandro Eloi Venâncio, do Havan Labs, durante palestra
no lançamento do IoP Journal, em 2019, no Museu da
Imagem e do Som (MIS), em São Paulo (SP)

Com tags (etiquetas inteligentes, com chips minúsculos, do tamanho da ponta de uma agulha) e leitores de identificação por radiofrequência (RFID), uma operação de horas pode ser feita em poucos minutos ou até segundos. E, deve-se dizer, a principal vantagem do uso desta tecnologia supera a redução brutal do tempo para contagem de mercadorias: a precisão da contagem beira os 100%. Ou seja, além de gastar menos tempo para aferir o inventário, qualquer empresa usuária de RFID pode se beneficiar da precisão de contagem de seus estoques.

Outro benefício muito comum e que tornou a tecnologia muito mais procurada do que simplesmente o uso de códigos de barras tem sido o potencial de encontrar produtos que muitas vezes ficam perdidos em meio ao estoque ou até nos balcões de vendas, especialmente em datas de maior movimento comercial, como períodos de festas ou datas comemorativas. Ativando-se o localizador de produtos, o leitor emite sinais sonoros (bipes) que se tornam mais intensos e frequentes quando o interrogador (leitor de RFID) se encontra nas proximidades do objeto desejado.

Especialistas em varejo, como o Dr. Hardgrave, afirma que muitas vendas deixam de ser realizadas porque os vendedores de um estabelecimento não encontram uma determinada mercadoria nas cores e tamanho solicitados por um determinado cliente, apesar de constar no sistema que o produto está disponível no local.

Agora, especialmente depois da Covid-19, o maior desafio para as lojas e marcas está sendo encontrar o produto comprado online em seus estabelecimentos físicos, para então realizar a remessa com precisão. O crescimento do e-commerce está sendo responsável por uma busca maior da RFID como solução para vendas e controle de estoque. O uso da tecnologia – nas empresas que já a adotaram – em operações de e-commerce acelerou ainda mais o processo de Retorno sobre o Investimento (ROI) em RFID, que normalmente se realiza em poucos meses.

Rafael, da iTag, mostra inventário de mercadorias e
localização de item “perdido” no estoque

Com identificação por radiofrequência, a experiência do cliente também pode ser impactada. Empresas de varejo brasileiras e internacionais utilizam a tecnologia no processo de self-checkout, o que permite aos consumidores fazer suas compras, incluindo pagamentos, sem precisar de um atendente humano. A venda passa, assim, a ser totalmente automática, inclusive com a desativação da etiqueta de RFID para o sistema de alarme da loja, permitindo que o consumidor saia do estabelecimento sem disparar o alerta sonoro, depois de o pagamento do produto ser confirmado no caixa.

Tendo em vista estas vantagens da RFID e por ser uma empresa bastante antenada com os avanços tecnológicos recentes, a varejista brasileira Havan resolveu investir em sistemas e desenvolver um software de identificação por radiofrequência capaz de fazer da tecnologia uma ferramenta aliada ao sucesso dos seus negócios. A solução RFID da Havan foi desenvolvida internamente, dentro da própria empresa, pelo Havan Labs.

Para colocar sua solução em funcionamento, o Havan Labs contratou três grandes empresas para fornecer os insumos de RFID para suas operações. Nos estabelecimentos comerciais físicos, onde o controle de mercadorias é crítico para a venda e melhoria da experiência do cliente, a Havan optou pela iTag Etiquetas Inteligentes, para fornecer equipamentos e etiquetas – virgens e bureau – para o seu projeto. A iTag tem ampla experiência no segmento de RFID, graças ao foco de 100% nesta tecnologia, e com clientes em diversas verticais, incluindo varejo, saúde, manufatura, entre outros.

O projeto de RFID da Havan conta ainda com equipamentos da SmartX Tags, companhia que se responsabilizou pela oferta de seu expertise em leitores e hardware com tecnologia RFID para o controle de cargas dos Centros de Distribuição (CDs) da Havan, na saída de mercadorias para as lojas de varejo da rede, incluindo o fornecimento de portais inovadores desenvolvidos pela própria SmartX Tags no Brasil (SmartX Tags lança portais RFID multilineares). Assim, todas as mercadorias que saem com etiquetas de RFID dos CDs da Havan são contadas em portais com leitores de identificação por radiofrequência, assim que seguem para uma das lojas, garantindo total precisão e confiabilidade nas entregas. O sistema da Havan conta ainda com a Haco, também fornecedora de etiquetas RFID.

Alexsandro Eloi Venâncio, responsável pelo projeto na companhia de varejo e pelo Havan Labs, aponta que a companhia cortou custos para controlar 200 mil peças em estoque: o processo de cinco noites com 15 colaboradores passou a ser feito em uma hora com uma só pessoa. “Hoje, temos isso na loja de Brusque. E estamos em expansão”.

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Carroceria de caminhão da Havan

Nas primeiras medições, segundo ele, a implantação de RFID já havia mostrado o potencial de reduzir o tempo de inventário das lojas da Havan, que inicialmente fez um piloto com 15 de seus estabelecimentos comerciais. A implantação de identificação por radiofrequência levou a companhia a reduzir o tempo de contagem de Produtos de Alto Risco (PAR, como são chamados na empresa), de 4 horas para 20 minutos.

Em uma projeção de um ano, prevê Venâncio, a economia chega a 20 mil horas de trabalho, com uma redução no tempo geral de inventário da ordem de 93%. No início do projeto, quando estes números foram conseguidos pelos gestores do projeto, a companhia contava com 400 fornecedores prontos para fazer suas entregas com tags de RFID em seus produtos, o que provocou uma forte pressão nos estoques do mercado de RFID brasileiro em busca de leitores e etiquetas inteligentes, no ano passado (2019).

A companhia foi acumulando ganhos em toda a sua cadeia de distribuição com o uso de RFID, o que refletiu em maior precisão de entregas e, ainda, benefícios significativos quanto à eficiência de todos os seus processos de negócios. Na expedição, por exemplo, o carregamento manual de caminhões – que consumia 30.000 horas por ano – passou a ser concluído em 33% menos tempo. Ou seja, o processo de 3 horas consumido por um só caminhão, sem RFID, caiu para 2 horas com a tecnologia de identificação por radiofrequência.

Para Venâncio, a separação lógica dos estoques das lojas e dos depósitos foi mais um dos ganhos esperados, o que poderá permitir à empresa operar num sistema mais alinhado ao chamado omni-channel, pelo qual, não importa qual seja o canal preferido pelo consumidor, todos os produtos em estoque são passíveis de ser vendidos, sem restrições. “Com isso, houve uma redução estimada em 30% no valor dos estoques dos depósitos das lojas”, calcula o executivo. “A tecnologia oferece, ainda, a possibilidade de inventários segregados, o que levou a um aumento de 60% na viabilidade do processo relacionado ao chamado buy on-line, pickup in store (BOPIS) [ou seja, comprar online e buscar na loja física, mais uma operação típica de omni-channel]”, concluiu.

O Havan Labs contava há poucos meses com 180 funcionários, sendo 80 deles focados em desenvolvimento. Antes da Covid-19, a empresa planejava ampliar esta divisão Havan Labs para 300 profissionais especializados em Tecnologia da Informação (TI), até 2022.

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